segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

a minha caminhada

A minha caminhada

O sol escondia-se para além do oceano, e eu ficava nostálgica a olhar as nuvens negras, que  já andavam a prometer água, havia uns três dias.
Sentada no banco virado pró mar, ouvia o barulho dos carros passarem velozes nas minhas costas a caminho do Guincho.
Virei-me e dispus-me a fazer a caminhada de volta.
Nesta altura do ano anoitece rápido e eu tinha ainda uns três a quatro kilómetros, até casa.
Poderia ter ido mais a direito, mas apeteceu-me ir junto ao mar e virei para o lado da Boca do Inferno.
Apressei o passo quando umas pingas grossas começaram a cair na minha cabeça. Eh pá! poderia, ao  menos , ter esperado que eu chegasse a casa... mas o fresco da água a cair sobre mim , fez-me sentir bem.
Quando chegar a casa tomo um duche quente, pensei, e não me vou constipar.
De repente: trááásss... um barulho estrondoso ao meu lado. Dois carros bateram.
Alguém gritava dentro dum dos carros.
Que fazer?
Chamar o 112 e aproximar-me  para ver em que podia ajudar.
A chuva engrossava e os outros carros não paravam.
A rapariga, que gritava, estava presa entre o volante e banco do carro. Ao ver-me, apontava para o banco de trás, e dizia-me: ajude a minha avó, por favor.
A senhora idosa gemia, mas fingindo uma calma, que não tinha, disse: calma filha, eu estou bem, não te preocupes.
Através da janela, estendi-lhe a minha mão e ela apertou-a com força, as lágrimas a correr pela cara abaixo.
Corajosa esta senhora de 89 anos!
A ambulância veio, a avó tinha  a anca fraturada, e a neta um pé. Foi isso que os bombeiros diagnosticaram, mas o raio x o diria.
Lá foram para o hospital e eu acabei por apanhar um taxi para vir para casa.
Nessa noite dormi mal. As imagens vinham e formavam-se em sonhos.
As lágrimas daquela senhora mexeram comigo.
        Dezembro de 2017